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segunda-feira, abril 15, 2013

Uma migalha com excesso de peso


A minha migalhinha do meio é a miúda mais doce que já conheci. É meiga, carinhosa, dá beijos lambuzados e abraços apertados. Gosta de toda a gente, e um dia acordou com o ar mais feliz que se possa imaginar a dizer que tinha tido um sonho,e que todas as pessoas do Mundo gostavam dela. Gosta das pessoas, gosta dos animais. Tenho a certeza que a matéria de que é feita é do melhor que se pode encontrar, e que será uma daquelas pessoas que tornam o Mundo um sítio muito mais agradável para se viver.
Sempre foi super alegre. Adora cantar, adora dançar. É exuberante. Com ela é sempre tudo muito, não há meio termo. Os abraços dela são os mais apertados, os gritos os mais altos, o riso o mais espontâneo.
Também a sua fome é sempre muita. A migalhinha desde bebé que tem tendência para comer demais. Ainda só bebia leite e lembro-me de lhe fazer a dose recomendada no biberão, e ela bebia tudo e chorava, e lá ia Dito-Cujo fazer só mais 30ml, e depois mais 30ml, até que migalhinha ficava com ar extasiado e com um fio de leite a escorrer pelos canto da boca. Tem crescido assim. Adora comer. Adora doces.
Na primeira consulta de rotina em que a balança deu conta do que se estava a passar - pré-obesa- saí de lá cheia de conselhos e boas intenções. Doces só nas festas, leite magro, sopa sem batata. Reduzir os acompanhamentos.
As regras ditadas por causa do excesso de peso dela, foram transversais aos irmãos. Não há cá uma não come porque engorda enquanto os outros lambem os dedos. A teoria não é que alguém tem excesso de peso, é que faz mal à saúde. Aguentámos algum tempo assim, e na consulta seguinte a pediatra até ficou satisfeita. Ela tinha crescido, mas mantinha o peso. Continuava no limiar da obesidade, mas ainda assim melhor.
Foi sol de pouca dura. Tudo foi sol de pouca dura. As restrições alimentares foram-se desvanecendo, avós e tios começaram a dar chocolates e doces aos irmãos às escondidas, quando ela percebia disfarçavam, e davam-lhe também. Migalha mais velha que é muito magra percebeu que a irmã tinha um problema de peso, e não obstante lições de moral que eu e o pai damos, não perde uma oportunidade.
A minha migalhinha gorditita já faz cinco anos para o mês que vem e sabe o que vê no espelho.
Tenho medo, muito medo do que possa vir a sofrer. Se a irmã que é irmã, adora insinuar que ela é gorda, imagino como será na escola. Agora ainda são pequenos, mas o tempo voa. Começo logo a imaginar esta miúda tão boa e tão pura de sentimentos a descobrir que o aspecto físico para muitos vale muito mais que tudo o resto. Tenho medo que a pressão da imagem a possa levar a um qualquer distúrbio alimentar, ou depressões. Ou que seja só infeliz.
No outro dia resolveu dizer que não gostava do que via no espelho e que era a mais feia cá de casa. Foi como se me tivessem dado um murro no estomâgo. A minha migalha, a minha super-fofinha, a miúda mais querida, com a cara de anjo mais deliciosa deste mundo, está triste com o seu aspecto.
Sou mãe dela e tenho que a ajudar. Talvez esteja na hora de deixar de andar com rodeios e só com a conversa que faz mal à saúde, e deixá-la perceber de uma forma mais clara, que a quantidade de comida e doces que come está directamente relacionada com a barriguinha que ostenta. Eu sei que a melhor forma que tenho de zelar pelo bem estar dela futuro vai provocar-lhe algum desgosto imediato. Sei bem o que é morrer de vontade de comer 200gr de chocolate e ter que trincar uma maçã em vez de. E eu não tenho cinco anos.
A pediatra disse que nesta idade o exercício físico ainda não é determinante. Mas mesmo assim, conto levá-la a fazer aquelas caminhadas de fim de semana com mais frequência. A juntar à ginástica que faz durante a semana.
O mais difícil é convencer os avós que os cinco minutos que lhe dão de prazer com bolachas ou bolos ou chocolates, vão ser muito penosos, e que lhe estão a fazer muito mais mal que bem.
Mas tem que ser. Ontem fui-lhe comprar roupa, porque já começa a ser tarefa inglória encontrar alguma coisa que lhe sirva no armário, e acabei na Zippy a comprar o 9/10. Tento escolher-lhe peças que a favoreçam, tento que se sinta confortável, tento ignorar o que dizem as etiquetas, mas não posso mais ignorar que estou a ser conivente com isto, e que um dia ela não só não me vai agradecer como muito provavelmente me vai culpar.
Pobre migalhinha... tem que começar cedo a lutar contra a balança.


1 comentário:

  1. Como percebo isto. Mas por favor ajuda-a a criar bons habitos. Quem me dera que quando tinha 5 anos tivessem feito o mesmo comigo. Secalhar agora aos 17 nao sofria o que sofro com a imagem e a balança!
    Beijinho e boa sorte :)

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