Não desiludiu. Aconteceu exactamente tudo como tinha imaginado, como acontece em todos os saraus, como já acontecia quando eu era ginasta há mais de vinte anos.
Primeiro os mais pequenos (piquenos para quem preferir). Dão uns saltos e enrolam-se sobre o próprio corpo, numa coisa a que podemos chamar com um bocado de boa vontade, cambalhotas.
Num sistema de som de qualidade duvidosa, ouve-se algo que parece o Batatoon ou o Avô Cantigas.
Há sempre uma criatura minúscula nestas classes, que tem dois anos(ou quatro mas no percentil cinco), e que faz as delícias dos espectadores, que se esquecem de olhar para todos os outros, que são aliás os únicos que percebem porque foram largados na arena, para gaudio do público parental.
Migalha do meio, com os seus quatro anos generosos, faz parte destes piquenos, também ela num percentil que tem os seus encantos para quem assiste. Olha ali aquela tão redondinha, que fofinha (juro que estou a tratar).
A mana migalha mais velha, que foi trocada na maternidade e na verdade é filha de uma acrobata do circo, lá fez a sua parte, sempre certinha e perfeitinha e penteadinha como ela mesma.
O problema é que tudo isto aconteceu nos primeiros dez minutos e a cena ainda durou hora e meia.
Valeu-me ir olhando para o público. Fiquei sem perceber o que passa pela cabeça de algumas avós, que contagiadas pelo ambiente desportivo em redor, arrastam os ténis de fim de semana dando passinhos de corrida pelas bancadas, ora para tirar um foto ao neto, ora para sair da frente, julgando-se leves e airosas. Fiquei também sem perceber porque é que as madrastas que ainda não pariram filhos próprios, precisam de ser sempre tão exageradas na atenção que dão aos filhos dos namorados. Toda a gente sabe que os homens se agarram pelo estômago, e não pela quantidade de mimos histéricos com que lhes brindam os rebentos. Aplaudem com um tal entusiasmo, que dada a fraca qualidade do desempenho das crianças, só pode ser uma grande fita. Nem as mães.
No final, trouxe duas migalhas de cabelo lambido por mor da quantidade de gel, mas orgulhosas e felizes. E isso é tudo o que me interessa.
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