Acho que a nossa geração de pais, e não falarei por todos mas sei que falarei por uma boa parte, padece do medo de ver os filhos entediados. Procuramos sempre programas e programinhas para fazer com eles, lemos a "Estrelas e Ouriços", acompanhamos as estreias dos cinemas, vibramos com a perspectiva de um parque de diversões, uma peça infantil, um concerto, um circo, ou até uma feira com um carrossel e uma barraca de farturas. Quando aparece o sol andamos entre parques, jardins, praias e piscinas.
As nossas criancinhas, treinadas que estão nesta corrida desenfreada para tornar cada dia numa experiência qualquer, mal acordam e já estão a perguntar "então o que vamos fazer hoje?"
Cá por casa ainda nos falta fazer muita coisa, mas esgotados que estão o Jardim Zoológico e o Oceanário, resolvi ir passar o dia com eles ao Badoca.
Achei o parque giro, as pessoas simpáticas (ou não fossem alentejanos). Talvez chamar-lhe "safari park" seja um pouco pretensioso, afinal o safari são quarenta minutos num atrelado de um tractor, mas estava sol sem estar demasiado calor, e entre a alimentação dos lémures, um almoço ranhoso (se lá voltar levo comida, tem muito espaço para picnicar), o dito safari e um espetáculo de aves de rapina (o melhor do parque para mim), mais uns primatas e umas aves exóticas e umas cabrinhas anãs (fofura, pá), o dia passou que foi uma maravilha.
Estarão vocês a pensar, que as crianças deliraram, ficaram malucas com as zebras e as girafas e com a chichoca gigante da avestruz, mais os filhotes bebés dos antílopes, não é?
Pois, não.
Vejam bem, que a única coisa divertida que elas viram no parque, foi a única que não as deixei fazer porque iam ficar todas encharcadas: o rafting. E não, não estou a exagerar. A resmungar porque a ilha dos primatas ficava longe e estavam cansadas, o que me disseram foi " a única coisa divertida não deixas fazer".
Digo-vos, esta geração de crianças é muito difícil de contentar. E é muito dificil de contentar, porque são muito dificeis de surpreender. Entre a televisão, a internet, e os mil e um sítios onde os levamos, já pouco os encanta ou maravilha.
O que noto aqui nas minhas Migalhas, é que a observação pura e simples de alguma coisa não lhes diz quase nada, ainda que seja uma girafa a menos de um metro. Querem mexer, tocar, provar, escorregar, subir, mergulhar, pular de alguma coisa ou em alguma coisa, tentar.
Claro que depois ficam com memórias boas, e falam dos lémures bebés agarradinhos às barrigas das mães, e da arara que quase bicou o Sancho, e do cheirete que deitava o dromedário, mais a ave que tenta matar um lagarto de peluche a atirá-lo contra as pedras vezes sem conta, mas enquanto estão no sítio, naquele exacto momento, parecem quase tão entediados como se estivessem em casa a ver televisão e a fazer desenhos.
Claro que Migalha Crescida, que apesar de ter apenas nove anos me parece estar a entrar numa espécie de pré-adolescencia precoce, é a pior neste aspecto, mas o problema está bastante massificado cá por casa.
Por causa das tosses, nesta Páscoa já não vão a mais lado nenhum. Andam de bicicleta, lancham waffles feitinhas em casa, brincam às papinhas de terra e farinha, e se estiver solinho, talvez os leve à praia.