Durante anos fui descuidada com as palavras. Saíam-me da boca desgovernadas, imponderadas, atingiam sem dó nem piedade. Se me zangava, se me irritava, dizia o que me dava na real gana, bojardas impiedosas e crueis.
Com a idade (já são 38, caramba), aprendi a calar-me. Percebi que passava demasiado tempo a reparar os danos que as palavras descontroladas provocavam. Fosse com os pais, com o irmão, com o namorado e mais tarde com o Dito-Cujo.
Hoje, só muito raramente digo alguma coisa impensada. Hoje, quando as palavras me saem da boca, dizem exactamente aquilo que quero dizer, e se forem magoar alguém, é porque a necessidade que tenho de que o outro oiça, prevalece sobre as consequências.
Claro que, apesar de eu dizer o que acho que tem mesmo que ser dito, há muita coisa que fica cá dentro. Quantas vezes tenho as frases a formarem-se na ponta da língua, até fazem comichão nos lábios tal é a vontade de desatar a dizer o que me vai na cabeça, e muitas vezes no coração. Mas não o faço, a menos que seja essencial. Não o faço, se não chegarem a sair, são só pensamentos que se esfumam.
Depois de ditas não podem ser retiradas. Depois não vale a pensa dizer que não era exactamente aquilo que se queria dizer, não vale a pena pedir desculpa. As palavras já fizeram os estragos que tinham que fazer, já ficaram na cabeça de quem as ouviu, já magoaram, ofenderam, feriram, e não dá para fazer delete no coração dos outros. Depois é tempo de emendar a coisa, de compensar, de ver se, mesmo que não sejam esquecidas, perdem importância, se não deixam cicatrizes.
Claro que há danos irreparáveis. Claro que há coisas que se dizem que abalam alicerces, que nos tornam irreconhecíveis aos olhos do outro, que mudam para sempre uma relação, seja de amor, de amizade, paternal ou fraterna.
Ter cuidado com as palavras é uma forma simples de mostrarmos ao outro que o amamos e respeitamos, e não o vamos magoar em vão. É também sinal de maturidade.
Ou pelo menos, como tudo neste blog, é o que eu acho.
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