PME escolares

Migalha Crescida tem uma tendencia pouco simpática de pensar primeiro nela, depois nela, e ainda mais nela, e talvez lá no finzinho, venha outra pessoa qualquer (abre excepções apenas para o Sancho, que lá a consegue levar não sei como).
Seja com brinquedos, com o ovo estrelado, com o lugar do carro, não há uma única vez que aquela alminha deixe o melhor para os outros sem ser obrigada a isso.
Ela decide o canal que vêem na televisão, ela é que diz a que é que vão brincar (mesmo com as amigas), ela não ajuda a irmã nem por mais uma com nada.
No outro dia, e para a tentar focar neste problema que é coisa inata, mas que ainda vamos muito a tempo de melhorar, disse-lhe que tinha um desafio para ela. Todos os dias à hora de jantar,  lhe ia perguntar que boas acções tinha feito durante o dia. Expliquei-lhe que eram coisas pequenas, não era preciso salvar um gato preso numa árvore. E ela fez um olho muito arregalado, e retorquiu: e se eu não tiver nenhuma?
Expliquei-lhe que se num dia inteirinho não fizer uma única boa acção, então tem que repensar a forma dela de estar na vida com os outros.
Todos os dias lá tenho o relatório: deixei a Constança escolher a brincadeira no recreio, ajudei a Migalha do Meio a por o cinto do carro sem refilar, partilhei as minhas bolachas com a Carlota, e por aí fora.
Até que hoje, vinha muito ufana com o feito do dia. Até foi ela que disse "então não me perguntas qual foi a minha boa acção de hoje?"
E lá diz, que ofereceu às amigas aquelas pulseiras que ela faz, em vez de vender.
Aquilo soou-me mal, agora vender, que disparate.
Mas diz que sim, que lá pela escola há um verdadeiro negócio de fabrico e venda de pulseiras, e não é com pagamentos em biscoitos do lanche, é mesmo dinheiro. Ó mãe, vê lá que o Lourenço hoje já tinha para aí cinco euros!
Eu sei que o país precisa de empreendedorismo e pessoas com as vistas largas, mas será que devem começar aos oito anos?