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quarta-feira, janeiro 16, 2013

Doutores

Um dia quis ser médica. Tentei, dois anos seguidos, e apesar de ter boas notas, não consegui. Talvez o sonho merecesse um pouco mais de esforço, mas em plena época de provas específicas e provas de aferição, decidi ir para Itália para um festival de ginástica.
Os meus pais deixaram-me decidir. Não deviam. Deviam ter proibido a ginástica, os saraus e o festival na época de exames. Claramente, não tinha a maturidade necessária para decidir o que era melhor para mim, e estava muito longe de perceber de forma concreta que era o meu futuro que estava em jogo.
Nada acontece por acaso. Provávelmente teria sido uma péssima médica. Teria sido uma péssima médica, porque o que me fascina não é a medicina, são mesmo os médicos. Os meus sonhos rondavam o ouvir ao micro de um sítio qualquer - "está algum médico presente?"- e eu surgir, qual heroi, a salvar a vida de alguém. É parolo, eu sei, mas tinha 18 anos.
Os médicos: todo aquele ar, aquele jeito de quem se move como se levitasse dois palmos acima do resto do mundo, todo o poder de conseguir ajudar os outros, ter os conhecimentos para salvar vidas, a forma como nos entregamos nas mãos deles quando estamos aflitos.
Os médicos podem tudo e aos médicos tudo é permitido. Esperamos duas horas e não reclamamos, aturamos os trombudos e antipáticos porque alguém disse que aquele médico é do melhorzinho que há naquela especialidade, evitamos fazer muitas perguntas para não os enfadar, e pagamos um balúrdio no fim.
Socialmente, ser médico é um cartão de visita maravilhoso. Toda a gente gosta de ter amigos ou conhecidos médicos, porque nunca se sabe se vai ser preciso, e portanto, são quase sempre bajulados até à exaustão.
Quando os vejo caminhar nos hospitais, com o estetoscópio ao pescoço, sinto que estou a olhar para alguém que vai em missão. Imponente. Superior.
É um facto. A medicina perdeu alguém com jeito para caminhar com ar arrogante pelos corredores dos hospitais, mas felizmente, ganhou a possibilidade de não ter nas suas fileiras, um cocó de médica.

2 comentários:

  1. :) Fizeram bem a deixar-te decidir, sim. Se calhar sabiam que afinal não era aquilo que querias.

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  2. Também culpo os meus pais por me terem deixado decidir vezes sem conta que podia mudar de agrupamento e de curso. Acho que, como meus pais, tinham obrigação de decidir que eu devia ter ficado num determinado curso até ao fim e deviam-me ter alertado que cursos cujo nome não seja uma profissão ou, em ultima instancia, tenha mais de duas palavras (o meu tem 4!!! fuck), não servem para nada (nem para realização pessoal..que era a porcaria da minha desculpa quando, na verdade, apenas facilitou a minha vida social).

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