Talvez este assunto não devesse ter importancia suficiente para considerar sequer, que o aniversario da migalha teve uma parte menos boa.
Mas tem. Porque me tem ocupado tempo em pensamentos, e porque me magoa.
A migalha tem uma amiga que adora desde o tempo do infantário. Porque apesar de só terem cinco anos, gostavam das mesmas coisas, das mesmas brincadeiras, dos mesmos programas de televisão.
Chegaram a ter oportunidade de brincar fora da escola. A migalha, chegou a ir brincar a casa dela, e ela, chegou a vir brincar cá a casa.
Tudo corria dentro do que é suposto, uma amizade normal entre duas crianças pequenas, tu és a minha melhor amiga, eu sou a tua melhor amiga, e pronto.
Até ao dia. Até ao dia em que a mãe resolveu que as nossas filhas eram amigam demais, que tinham uma amizade demasiado exclusiva, que talvez não devessemos alimentar muito isso fora da escola. Que a filha achava a migalha muito bonita, que estava fascinada pelo cabelo, pelas roupas, e que temia que quando um dia fossem separadas acabasse por sofrer. Que estava dependente.
Ãh??
Fiquei para morrer. Não consegui compreender. Parecia que estávamos a falar de um namoro proibido, de duas adolescentes que se metem na droga juntas, sei lá. De tudo menos de duas meninas de cinco anos que são amiguinhas.
A migalha perguntou-me vezes infindas porque não podia ir brincar a casa da amiga, porque não telefonava à mãe dela a convidá-la para vir cá a casa. A miúda, sempre que me apanhava na escola, perguntava-me porque não podia vir.
Tive sempre muita dificuldade em explicar à migalha o que se passava. Estava fora de questão que ela pensasse sequer que existe o conceito de "demasiado amiga". Porque ensinar-lhe que era "demasiado amiga" de alguém, era ir contra tudo aquilo em que acredito, e que lhe tento transmitir. Porque me orgulho de a minha filha, tão pequena, ter essa capacidade de desenvolver relações de qualidade e de verdade com as outras crianças.
O tempo passou, continuam na mesma escola, mas em salas diferentes. A migalha fez novas amigas a juntar às que trazia.
Esta amiguinha estava incluída no lote das que ela quis convidar para a festa. E mais uma vez a mãe, depois de engonhar até quase à última para responder, lá escreveu um simpático mail, a anunciar a não comparencia da filha.Sempre educada, sempre irritantemente simpática. Sempre estupidamente delicada. Um vómito.
Esta mulher faz parte daquele género de mães manipuladoras que tenta controlar a vida dos filhos, com quem se dão, quem pode ou não interessar. Cada passo e lá estão elas, castradoras, a inibirem-nos de ouvir o coração, com o mote de que pode ser díficil agora mas no futuro irão agradecer.Caprichosas. Interessadas em relações superficiais, controladas nos movimentos, nas palavras, e sobretudo nos sentimentos. Sem se envolverem, como as putas. Sem amor, não há sofrimento. Pois não. Nem todas as coisas boas que se retiram das relações sinceras e despojadas de interesse.
Vou continuar a convidar a miúda, enquanto a migalha o pedir. Não tenho nenhuma justificação decente para não o fazer. A senhora vai continuar a recusar gentilmente os convites.
Tenho pena, muita pena da filha dela. Tenho pena que me pergunte a mim, o que se passa. Pelo andar da carruagem, vai precisar de um bom psicoterapeuta quando crescer mais um bocadinho.A julgar pelo comportamento da mãe desde o infantário, suponho que até à idade adulta vai ter um longo e penoso caminho.
E tenho pena da minha filha. Pena que se veja privada do convívio com uma pessoa de quem gosta, por causa de uma...de uma...de uma...mulherzinha, para ser simpática.
Raisparta essas fulaninhas!!!
ResponderEliminarMesmo!!
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