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terça-feira, abril 08, 2014

Coisas em que penso desde ontem

Acho que os doentes com cancro podem e devem ter direito à sua zanga, a maldizer tudo e todos, a enfiarem-se numa cama à espera de morrer, têm direito a ter medo, muito medo, da morte, do sofrimento. Têm direito a chorar e até a desistir, e a não acreditar. Têm direito de se lamentar, de se arrepender do que fumaram, do que não comeram, de maldizer a genética, de se converterem a uma religião. Têm direito de julgar que se safaram, de recusar falar da doença, de esconder que estão doentes, de continuar a falar de uma cura que não existe, de procurar a Alemanha, ou Cuba, de arrastarem a família no seu sofrimento. Têm direito a não querer morrer, a não deixar listas de desejos, ou últimas vontades, têm direito à revolta, à depressão.
Têm direito a ser pouco elegantes, desesperados, mariquinhas.
Isso não apaga quem eram antes.






12 comentários:

  1. Cada um tem o direito a lidar com a coisa da melhor forma que souber, de maneira a ser o mais feliz possível. Esta foi a forma dele. De certa forma, acho que era preciso conhecê-lo para compreender, sempre me fez imensa confusão esta exposição mas acabei por aceitá-la e aprender a admirá-lo. O Manel sempre foi um irreverente com um ego enorme, foi feliz, no fim do dia é só mesmo isso que interessa.

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    1. Extraordinária a forma como encarou a doença. Exemplar, como já ouvi. E concordo quando dizem que era inspirador para outros doentes, eu se um dia tivesse que lidar com a doença gostava de o fazer assim. Mas quem se desespera, quem não consegue manter o charme e a nobreza perante o seu próprio fim, merece-me exactamente o mesmo respeito e admiração. E sim, mais vale 50 anos felizes que 90 de uma vida sem sentido.

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  2. "Cada um é como cada qual", costuma dizer-se. Suponho que os doentes oncológicos não sejam diferentes, uns são optimistas por natureza, outros são pessimistas, outros, outrora optimistas deixam de o ser e há pessimistas que encontram forças onde jamais imaginaram encontrar. Eu rezo para não ter de viver essa experiência, na minha pele ou na dos meus, porque não faço a menor ideia de qual será a minha reacção e, no meu íntimo, queria muito ser positiva, mesmo sabendo que a probabilidade de fazer parte do outro grupo é igual.

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    1. Dos que tive oportunidade de acompanhar de perto, e que felizmente foram poucos, e ainda mais felizmente nem todos com final triste, julgo que terão fases durante a doença. Momento de grande esperança e quase alegria, momento de desespero e revolta, de resignação. A mesma pessoa.

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