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sábado, outubro 05, 2013

A minha mãe está a Prozac...

A minha mãe está a anti-depressivos. E de baixa.
Poucas coisas seriam mais estranhas do que a minha mãe com uma depressão. Não que não tivesse dado sinais, que tinha. A irritação constante, as reacções exarcebadas a qualquer acontecimento, a choraminguice desadequada, as dores no pescoço, os dias em que não se conseguia levantar da cama (tonturas dizia ela, é coluna). A forma como reagiu à morte da própria mãe...
Estes estados, não são novidade na família. A partir de certa altura da vida, a minha avó oscilou entre o estado depressivo e o princípio de esgotamento, para voltar ao estado depressivo. Dizia-se triste, e assumiu a sua a tristeza como um estado permanente e irremediavel. Uma maneira de estar na vida.
Pouco fez para o mudar.
Ou talvez tenha feito vagas tentativas... Uma temporada num psiquiatra, uns calmantes que geria de forma inconsciente.
Sempre ouvi falar de angústias e ansiedades, e quando eu própria tive o meu momento, o psicólogo achou que seriam influências da minha avó.
Mesmo nos dias de grande alegria, numa noite de Natal, no meu casamento, no nascimento dos meus filhos, a minha avó ficava triste, como se a felicidade lhe estivesse vedada, como se não o merecesse.
A minha mãe nunca a compreendeu. No fundo, sempre achou que aquilo era um bocado de mania, uma escolha. Que não se animava porque não queria. Como se aquela depressão que se colou à própria mãe por alturas da menopausa, não fosse mais que um capricho.
Ela, graças a Deus, não tinha cá essas "maluqueiras".
Eu sim, eu é que tinha saído mesmo à minha avó. Mania das doenças, ansiedades, insónias, tristezas súbitas e inesperadas, vontade de chorar inexplicável, nada disso a atingia. À noite, deitava a cabecinha na almofada, e dormia o sono dos justos, cá preocupações, cá vontade de vomitar com os nervos. "Maluqueiras"!
Por isso é tão estranho fazer-me um telefonema para informar que o médico lhe receitou anti-depressivos. Para me dizer que não aguenta mais a pressão do trabalho, que aquilo já não é para ela (a minha mãe tem sessenta anos e é viciada no trabalho, no atingimento dos objectivos, nos prémios). Que está de baixa.
Caraças...A minha mãe de baixa...A anti-depressivos.
Com a "maluqueira".
Preciso de me habituar à ideia.


8 comentários:

  1. Parece que ė a doença da moda, ao minimo sentimento ou queixas lá dizem " é depressão", posso estar errada com este meu pensamento mas tempos houve que as pessoas passavam dificuldades e desgraças piores ou iguais ás que passamos agora na atualidade e naqueles tempos tudo se resolvia, tudo tinha força para ultrapassar as dificuldades.Tb cresci com uma avó, que passou tantas dificuldades, passou a vida com medo da morte, medo que me passou de tal maneira que já fui tão obessesiva ao ponto de ter ataques de panico, de me isolar ( estive 6 meses sem sair de casa) de evitar situações como comer gelados só com o medo de morrer com uma congestão, mas desde que sou mãe que tudo mudou, sim tenho medo mas sinto-me tão forte que esse medo é ultrapassado só para não o transmitir a elas, e sim tb á pouco tempo a minha médica de familia me receitpu antidepressivos depois das minhas queixas de coração acelarado, pressão na cabeça e após exames que concluiram que estou em perfeita saude fisica.......se os tomo? Sou mais forte e tudo vai passar.

    Espero que a tua mãe encontre força e que depressa ultrapasse esta fase.( eu só pelas contra indicações prefiro nem pensar em medicamentos .......sou esquesitaá bava)

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    1. As vezes tem mesmo que ser. Ela também fugiu dos medicamentos, mas agora parece-me que se rendeu...

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    2. Pois, Akombi, é por muita gente pensar assim que as pessoas vivem uma vida miserável sem se tratarem d euma doença que é tão real como o cancro.
      É triste mas as pessoas ainda não conseguiram compreender que a doença mental é uma doença como qualquer outra e precisa de ser tratada, a maior parte das vezes com medicamentos.
      Eu também pensava tal e qual assim... que era "forte" e ia ultrapassar. Até ao dia em que percebi que o ser forte estava a arrastar-me para um abismo do qual poderia nunca mais sair.

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  2. :/
    Tenho medo dessas doenças, das que não se vêem, só se sentem... precisamente porque para grande parte das pessoas não passam de manias, de maluqueira.

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    1. Sabes... Eu acho que se vê. Se estivermos com atenção, acho que se vê. Mas sim, ainda há quem ache que são fitas. Olha a sorte daquela, está de baixa mas pode andar no laréu... A minha mãe era um pouco assim, até lhe bater à porta.

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    2. Eu era assim, até me bater à porta! :) As melhoras da mãe. Essa doença é real!!!!

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  3. É doloroso vermos a nossa referência, o "braço de ferro" da família, a cair...

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