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quarta-feira, abril 20, 2016

Na Igreja

Cada vez tenho mais a certeza que sou propensa à desilusão.
Que mesmo as situações e as pessoas aparentemente sem mácula, tendem a desencantar-me. E não, não estou a falar no sentido amoroso do termo.
Nos últimos dias, tive a prova desta minha tendência para o desânimo com as pessoas.
Senão vejam: comecei a viver a Igreja tarde.  Talvez por ser tarde,  foi por minha tão livre e espontânea vontade, que encaro o tempo que passei a dedicar à religião como um pequeno luxo que decidi que tinha que oferecer a mim própria, não cabendo na minha cabeça de hoje, um viver de fé atravancado no conceito do não-praticante.
Sempre soube que nada do que me rodeava ali, nesse viver a Igreja, era um mar de rosas. Sempre vi muito conflito latente, desde os lugares reservados na igreja para os meninos na catequese, até às músicas que o coro escolhia para a missa de domingo. Tudo servia para burburinho e para comunhões cheias mais de raiva que de amor. Tive a certeza que não seria impressão minha que estaria perante almas quezilentas, quando por altura do 8 de Dezembro, me ofereci para ajudar a preparar a igreja.
A competição era feroz. Colocar as flores nos jarrões frente ao altar, e perante a imagem de Nossa Senhora, era a tarefa mais disputada, reservada apenas a quem muito reza e se dedica. Às convertidas tardiamente, como eu, que nem uma Salvé Rainha sabem rezar, estava reservado o direito de encher baldes de água, e enxugar chão a esfregona. E se, mas e só se, nos achassem algum mérito e fervor suficiente, poderíamos opinar sobre a beleza dos antúrios, das margaridas e das verduras, que sábia e cuidadosamente iam colocando em arranjos. Mais para a esquerda, esse ramo mais para baixo, talvez menos um bocadinho, isso, assim, está bom.
No último domingo, o verniz estalou de vez. À falta da única voz, digna desse nome, no coro, pegaram-se mães e catequistas pelo lugar em frente ao microfone. Indiferentes à presença das crianças, e Deus sabe como para mim é importante o exemplo que damos às crianças, lá se foram travando de razões, qual delas a menos digna do local.
E a cada troca menos simpática de argumentos sobre quem teria mais ou menos direitos sobre o microfone, o meu encanto quebrava-se, a minha tolerância descia, tornava-me surda às palavras e só escutava as caras crispadas. Pessoas que até ia estimava, fizeram-se em cacos.
E foi então, com a certeza que não teria nada mais a perder que não tivesse já perdido, que não haveria cola capaz de remediar tantos cacos, que disse alto e bom som, carregada da mais pura ironia: "Bendito seja Deus que nos reuniu no amor de Cristo".
Não sei se me posso voltar a sentar nos cinco primeiros bancos.

11 comentários:

  1. Sou católico praticante desde sempre!
    Até já andei a tocar nos coros...
    ...ou seja, já fui menino do coro!
    Sei muito bem do que falas!
    Talvez por isso, e porque nunca levei desaforos para casa de ninguém, nem dos padres, ou até muito menos deles, que devem ser o exemplo máximo e por vezes são exemplo máximo da estupidez e da mesquinhice, deixei essas guerras para as beatas.
    Sobretudo depois de ter dito na cara de muita gente aquilo que pensava deles a seguir a um concerto de beneficência para com as vitimas do Tsunami num salão paroquial!
    Deixa-os estar e andar, coitados, que andam ali à procura de um protagonismo que não têm em mais lado nenhum! Olha por ti e pela tua fé. Quanto muito, tem alguma pena deles, porque são como os vendedores no templo!
    A fé não se mede pela beleza de um arranjo floral a uma estátua mas pelo que sentimos em relação à pessoa que a estátua representa.

    :)

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  2. O que mais me aflige são os grupinhos que se formam, as catequistas, o coro, o grupo da livraria, o grupo disto e daquilo. É impressionante a forma como se comportam, sempre como " nós é que somos os donos da igreja".
    Eu sou uma má paroquiana e não tenho qualquer paciência para estes grupos. A única vez que tentei colaborar, pediram-me simplesmente para ir deitar fora uns caracóis que estavam nas flores. Não os deitei no lixo, coitados são criaturas de Deus e eu sou afilhada de baptismo de S. Francisco de Assis, pelo que os coloquei, sem ninguém ver, no jardim da igreja.
    Em muitas paróquias, se os padres não tomam precauções estes grupos mandam mais na vida da igreja do que eles próprios.

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    1. Estes "grupos", quando são verdadeiramente profissionais, a primeira coisa que fazem é pôr o padre knock-out, para poderem manipular o poder que julgam pertencer-lhes a seu belo prazer.
      É preciso ser um padre com uma personalidade muito forte para não se deixar enredar nestes jogos.

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  3. Em pleno Domingo de Ramos vi uma senhora acotovelar uma fila inteirinha para poder ser a primeira a comungar. Há anos que eu não tinha um tamanho ataque de riso numa Igreja - decididamente não sou digna de que o Senhor entre na minha morada=)

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  4. Gostei muito do seu post. De facto, retrata muito do que se passa à nossa volta, em muitas paróquias. Penso que o importante é manter o foco e não nos afastarmos daquilo que nos liga, dizendo com firmeza, mas mantendo sempre a doçura. É que esta, pode ser firme, acho eu... e assim, talvez se seja testemunho. Será?
    Um beijinho.

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  5. Respostas
    1. Queres que eu seja excomungada, mulher? Não vou dizer qual a paróquia. Mas posso dizer-te que o teu palpite foi ao lado. Isto é tudo é a mesma coisa.

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    2. Não pah. Quando eu escrevi Campo Grande, a ideia era passares a ir ao Campo Grande. Eu acho que sei bem de que paróquia falas.
      Vai por mim e muda-te para o Campo Grande. São fabulosos, um grupo de catequistas e jovens impecáveis.

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    3. Aaaaaaaahhhhhhh! Já percebi. Sabes, estou a pensar seriamente nisso. Mudar de paróquia. Só tenho pena por meia dúzia de pessoas...

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    4. Muda. As miúdas vão adorar a missa das crianças. Eu ainda adoro.

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