Para dizer a verdade, o trabalho é um meio para atingir um fim, e não sendo herdada nem tendo casado rica (com muita, mas mesmo muita, pena minha), resta-me como única forma de o atingir- ao fim.
Em minha defesa, posso dizer que não fui eu quem começou este fim de namoro. Tempos houve em que achei que poderíamos ter uma relação especial, eu e a empresa. Era um daqueles amores que funcionavam, porque eram recíprocos.
Depois aconteceram coisas. Muitas coisas aconteceram a muitas pessoas. E não aconteceram a umas pessoas quaisquer. Aconteceram a pessoas que também viviam a alegria de uma relação que julgavam plena, que se julgavam especiais, que pela sua enorme dedicação esperavam um tratamento diferenciado, preferencial. Aconteceram coisas a pessoas que abdicaram de demasiado na sua vida pelo emprego, a troco de palmadinhas nas costas.
Eu sempre acreditei que jamais um empregador no seu perfeito juízo quereria dispensar um bom trabalhador. Sempre acreditei que as leis de protecção ao emprego serviam apenas para os faltosos, os preguiçosos, os colaboradores que qualquer patrão, do mais pequeno ao maior, quereria ver pelas costas.
Ao longo destes anos, não foram poucas as vezes que tive que despedir pessoas. Porque os contratos acabavam, porque os estágios eram miseráveis, porque faltavam, porque roubavam...Sempre o fiz na certeza que estava a fazer o que tinha que ser feito. Não me pagavam para fazer caridade com o dinheiro da empresa, e aquilo não é a Santa Casa da Misericórdia. Sempre, sempre pessoas que não valiam um tostão furado quanto mais um ordenado.
Mas nunca tive que despedir um bom trabalhador. Porque os bons, já se sabe, ninguém se quer ver livre deles.
Até agora.
Ora eu, que tenho este problema de ver nas costas dos outros as minhas, juntei dois mais dois, e decidi que se um dia me vier a acontecer esta coisa de deixar de ter as competências adequadas para o perfil, já me terei desapaixonado há muito. Poderei lamentar a perda de benefícios, até do emprego, mas nunca terei a lamentar um coração partido.
100% de acordo! Eucostumo dizer que quem diz que a empresa é como uma família, um dia vai ver...Família só se for a da Máfia!
ResponderEliminarPois vinha aqui comentar precisamente isso, em tempos fomos todos familia, ultimamente passamos a números num ápice porque queriam ver-se livres de um número avultado. Assim foi, eu o número 25 vim para a rua com 23 anos de casa, juntamente com mais 22 números que, pelos vistos, estávamos a mais. Faz muito bem em terminar rapidamente com essa relação e mantê-la só pela retribuição.
ResponderEliminarBem sei que o metabolismo funcional das grandes empresas não permite esse grande luxo da proximidade emocional, mas um empresário que se permite dispensar um bom funcionário nunca será um bom gestor.(Digo eu).
ResponderEliminar"
ResponderEliminarPrimeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo".
Padecemos do mesmo mal de amores. Já deixei de estar apaixonada há muito restando-me apenas um "casamento de conveniência" com aquilo a que chamo emprego. Valha-nos ter a vida lá fora como o amante que nos aquece os dias :)
ResponderEliminarComo te compreendo. Ando mto "desapaixonada" nos últimos tempos...
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