Como se explica a um marido acabado de entrar a porta de casa, que a nossa cara fechada e a voz que começa por sair embargada pelas lágrimas, se deve à morte de um menino que não conhece, que não é amigo, vizinho ou familiar?
Soube do Rodrigo aqui nesta coisa dos blogs, mas podia ter sido no Facebook, ou num cartaz de um evento para angariar dadores de medula óssea, num concerto, num workshop, num dos tantos eventos organizados para ajudar a pagar uma possível cura.
Soube do Rodrigo, porque perante o pior dos cenários, uma mãe, mãe como eu sou, arregaçou as mangas e lutou de forma arrebatadora pela vida do seu filho, fez a sua voz chegar a muitas pessoas, e por sua vez a dessas chegou a outras, e é quase impossível que alguém que não viva num casulo, não tenha ouvido falar dele.
Soube do Rodrigo que não me era nada, e de repente passou a ser. Passei a rezar por ele, a torcer por ele, a amaldiçoar uma anemia que me impede de ser dadora de medula, a ficar com uma neura desgraçada porque não consegui estar no "Todos por Um", a espreitar a medo a página do Facebook, sempre a desejar que tudo corresse da maneira como deveriam correr estas coisas, e que deveria ser sempre com final feliz.
O prognóstico era o pior. Mas a mãe quis acreditar, que mãe não quereria, que mãe entregaria assim o seu filho de mão beijada?
E muitos acreditaram. Eu acreditei. Porque precisamos de acreditar, porque de vez em quando é bom saber que alguma coisa má corre bem, que os médicos se enganam, que milagres acontecem. As pessoas doentes precisavam de acreditar, os pais de outras crianças doentes precisavam de acreditar, eu, mãe de três filhos, precisava de acreditar, que desta vez o desfecho seria outro.
E todos mereciam que tivesse sido diferente. Todos os que se uniram em torno desta causa, que deram tanto de si, que se mobilizaram de uma forma completamente despojada em torno deste menino, que tiveram esperança, que acreditaram, que esperaram milagres, que sonharam com tratamentos em lugares distantes.
A Mãe Vanessa merecia que tudo tivesse sido diferente, porque é mãe, e nenhuma mãe deveria ser alguma vez na vida obrigada a passar por isto, porque é impossível sobreviver a isto, ainda que se continue a respirar.
O Rodrigo, tão pequenino, tornou-se tão grande. Tão grande porque de repente não é apenas o Rodrigo, são todos os meninos e meninas que diariamente lutam pela vida, que aguentam estoicamente tratamentos agressivos, internamentos prolongados, longe de casa, das suas caminhas, dos seus brinquedos. Porque o Rodrigo nos obrigou a pensar nestas coisas e a mexer o rabo para ajudar, porque por ele, mais pessoas se tornaram dadoras de medula, e quem sabe outras pessoas serão salvas.
Hoje, perante a partida do Rodrigo, penso em tanto que deixou com a sua passagem, e penso, se em vez de "Todos por Um", não terá sido realmente o "Um por Todos".
Que esteja em paz, num sítio lindo e maravilhoso, onde o seu sorriso possa continuar.
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