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terça-feira, janeiro 14, 2014

Suícidio e bullying e essas merdas que me revolvem as entranhas

Aquela cena do puto que se suicidou, supostamente por ser vítima de bullying, fez-me pensar um bocado durante o dia de hoje.
Lembrei-me da primeira morte que me chocou na vida, precisamente um colega do liceu com dezasseis anos, que se suicidou. Quer dizer, já tinham existido os dois colegas da escola primária que tinham morrido atropelados no espaço de uma semana, mas sabe-se lá porquê, este, por se ter suicidado, chocou-me muito mais.
Quem sou eu para falar de suicídio ou de adolescentes, a minha experiência é apenas com os segundos, e apenas por ter sido uma. E eu fui uma adolescente com toda a carga melodramática que a idade exige. E tive momentos péssimos, de tristeza profunda, de grandes dúvidas existenciais, de desgosto com os outros e o mundo, e se jamais pensei em suicidar-me, foi porque sempre tive uma enorme cagufa de morrer.
Depois pensei nessa merda do bullying. Lembrei-me que hoje de manhã, a mãe de um colega de Migalha Crescida dizia que o M. não queria ir à escola porque os do terceiro ano lhe batiam. E lembrei-me que lá na escola (primária, os mais velhos têm quê, dez anos?) há um jogo que lança o pânico entre pais e que se chama o "três contra um". Basicamente consiste em três baterem num.
Calha que a escola de Migalha fica num dos melhores bairros de Lisboa. Calha que nestes casos, coloco-me na pele dos pais do agredido, mas coloco-me também no papel dos pais do agressor. E imagino, o que será ser pai de um fedelho que aos oito ou nove anos agride colegas só para armar aos cucos ao pé dos outros. Quanda calha pensar nos pais dos agredidos, é um fazia e acontecia, e queixas, e estalos na cara dos putos e essas coisas que pensamos quando o instinto parental nos invade. Mas quando penso em estar na pele de mãe de uma criança agressora, só penso no enorme, enorme desgosto que eu teria se andasse a criar umas bestas de metro e trinta.
E não sei qual será pior.

11 comentários:

  1. É das coisas que mais me assusta quando forem para a escola.

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    1. Também me assusta, especialmente por causa da minha filha do meio, que é super boazinha e super gordinha. E por constatar que as escolas nem sequer têm pessoas suficientes para vigiar os miúdos, e que quase tudo pode acontecer.

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  2. É assustador. Apesar de afinal suspeitarem agora que o suicídio do miudo nada a teve a ver com bullying mas com dificuldades familiares, pobreza e problemas com a namorada (parece que ele deixou duas cartas de despedida).

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    1. Também ouvi nas notícias. Quem é que com 15 anos tem problemas com a namorada? Caraças...

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  3. Eu até tremo. Não tanto por temer que a minha filha seja uma bully em potência (dos relatos que tenho tido por parte das educadoras não tenho com que me preocupar, é um docinho de menina). Tremo porque me lembro das maldades que em criança fiz, com outros colegas, a uma menina do infantário que, nos dias de hoje seria certamente considerado bullying. Lembro-me de gozarmos com uma menina no infantário porque usava roupas diferentes das nossas, de só a deixarmos brincar connosco às casinhas se fosse a criada, ou então para jogarmos aos médicos tinha de ser a doente (e davamos-lhe injecções com lápis - aquilo de certeza que doía). Entretanto fartámo-nos e deixámos de o fazer, não sei se estes episódios duararam muito tempo ou não (recordo com uma clareza incrível não querermos brincar com ela porque usava collants castanhos, de estarmos a brincar às casinhas e de desrrumarmos tudo de propósito para ela arrumar e de lhe darmos a injecção com o lápis), mas incomoda-me que o tenha feito. Morro de vergonha...

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    1. Junta-te ao clube. Mas eu não estava no infantário, já tinha dez anos e estava no ciclo preparatório. E fiz a vida negra a uma colega. E como tinha uma aptidão natural para comandar as tropas, consegui que toda a turma me acompanhasse naquela cruzada de infernizar a vida à outra. Lembro-me de uma vez na aula de educação física, ter ido ao balnerário para lhe por marmelada dentro dos sapatos. E de irmos na rua atrás dela a cantar uma cantilena qualquer só para a envergonhar. Não me orgulho nada. Aliás, morro de vergonha, e tambem tenho a certeza que aquilo era bullying. E o pior é que a mãe dela tentou falar com a minha mãe, e a minha mãe lhe respondeu que não se metia em coisas de crianças. Um par de estalos e um castigo era o que eu bem merecia.

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    2. O problema é, como referiste, os pais estarem atentos a este fenómeno por temerem que os filhos possam ser vítimas e não tanto por poderem ser agressores, aliado ao facto de, para muita gente, ainda ser normal haver rivalidades entre miúdos, que são naturalmente cruéis e egoístas, mas que é uma fase, isso passa, que não se pode intervir sempre para que a criança desenvolva as suas próprias defesas e se habitue a lidar com contrariedades. A verdade é que não podemos entregar estes assuntos nas mãos e na capacidade de uma criança/adolescente resolver o assunto. Sim, um bofetão e um castigo teria sido justíssimo.

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    3. Engraçado, a minha mais nova entrou este ano para o 5 º e já se sabe os miúdos a acharem-se ins crescidos, a minha foi gozada por uma colega na aula de ed fisica, e eu que estou calejada com a mis velha, esperei a colega e á saida dirigi-me a ela, a avó que a vinha buscar viu e dirigiu-se dizendo que eu estava enganada em relação á neta e ainda diz á minha filha que não tem que se sentir incomodada por não ser boa a ed fisica e ainda comenta comigo que não devia interferir pois já não estão na primária, claro que acabou por ouvir umas das boas e fiquei a achar que os adultos são piores que os miúdos, acabei a dar na cabeça da minha filha que para a proxima se defenda nem que seja ao pontapé :(

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    4. Acreditar que os miúdos têm mecanismos de defesa próprios é tapar o sol com a peneira. Os miúdos não são todos iguais, uns têm e outros não. Não defendo que os pais da vítima falem com o agressor dos filhos, sem tentar antes uma solução por parte da escola, acho que devem falar com o professor e, se este não tomar providências, então que fale com os pais do agressor. Mas não fazer nada teria sido pior...

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  4. No nosso tempo o crescer era dramatico mas nos dias de hoje é acima do dramatico os miúdos nem sabem como devem ser, a educação , tudo o que se vive é complicado crescer, tenho passado um mau bocado com a minha mais velha que desde o 7º começou a ser gozada, ela que nunca se aceitou por ter sido sempre a mais alta e mais pesada, por dar nas vistas, por se ter tornado insegura, a pior fase foi no 8º todos os dias eram queix do que lhe lembravam no corpo que ela não gosta, chegava a mutilar-se, isolar-se, a escola que não deu apoio e ainda tive que ouvir da diretora de turma " a sua filha é extremamente mimada, encosta se aos outros e mente qd a chamamos á atenção penso que o fazer-se de vitima serve para ser desculpada e tornar-se preguicosa"......psicologa na escola tb não achou necessidade de a seguir, senti-me sem apoios e a minha filha a chorar descontrolada e não querer ir á escola, este ano mudaram-na de turma e tudo tem estado a mudar para melhor, são fases que temos que estar atentas, dar apoio mas incentivar para que ultrapassem

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    1. É verdade, temos que estar atentas. Mas o tempo é tão pouco, que se forem crianças muito fechadas, ou orgulhosas, ou medrosas, podemos acabar por não dar por isso. E é disso que tenho medo. Também tenho medo destas escolas com falta de funcionários, que não conseguem ver nem 10% das crianças ao mesmo tempo. E dos professores que se limitam à sala de aula. Medo. Acho que todas as mães sentem o mesmo.

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