O maravilhoso header é cortesia da Palmier Encoberto. Quem mais?

quinta-feira, abril 30, 2015

Isto dito por alguém que se correr meia-hora é bem capaz de ver "a luz"

Hoje observava um grupo de velhotes que costuma correr ali no parque onde tento desfazer-me de meia dúzia de calorias. Mas velhotes mesmo. Nenhum tem menos de setenta anos. Todos com os calções com que jogavam à bola nos anos sessenta, t-shirts de algodão, e ténis de marcas desconhecidas, pelo menos para mim. 
Correm em passada rápida, com um ritmo constante, sempre numa conversa animada, com uma espécie de tubérculos no lugar dos gémeos.
E eu ao vê-los passar por mim como cão por vinha vindimada, penso que gostava de os ver lado a lado com os esses maratonistas cheios de apps e gadgets e ténis de running e camisolinhas rosa e amarelo fluorescente, a ver, quem é que fazia melhor.

Pior que ter um blogue de merda

É ter um blogue de merda e ainda falta de vontade para escrever posts de merda.

domingo, abril 26, 2015

Ao cuidado dos defensores de movimentos contra as corridas de toiros, especialmente os que são campeões nas redes sociais

Meus senhores e senhoras, fiquem-se aqui com a opinião de alguém que não gostando de touradas, também não defende que acabem, que é como quem diz, fiquem-se com a opinião de alguém como a Suiça, não sei se estão a ver.
E portanto, tomem em jeito de conselho, quatro ou cinco pontos para reflexão.

Em primeiríssimo lugar: estão a tentar acabar com uma tradição. Concordem ou abominem, tem vários séculos de existência em vários países, Portugal incluído. Milhares de pessoas no nosso país gostam de touradas, vão às praças, e organizam mil e um eventos à volta do toiro bravo, nomeadamente feiras e festas populares, também elas com séculos de existência. Portanto, por muito que achem cruel e bárbaro, não basta chegar e dizer vocês estão errados, vamos lá a acabar com essa merda. Vão precisar de paciência, perseverança, capacidade de argumentação e inteligência a passar a mensagem.

Em segundo lugar: não caiam na tentação de achar que os aficionados são as senhoras loiras cobertas de dourados que se passeiam às quintas à noite no Campo-Pequeno, e que quase sempre proporcionam bonitas fotos nas reportagens da Caras. Há milhares, milhares de aficionados espalhados por todas as classes sociais, especialmente nos meios mais rurais e nas cidades da provincia.

Em terceiro: não se esqueçam que estas mesmas pessoas desses mesmos meios rurais, a quem também deverão convencer, têm uma relação diferente com os animais. Não põe nome aos coelhos, não chamam memés aos borregos, e os cães são quase sempre animais de guarda que não dormem com eles na cama. Matam porcos, e galinhas, e leitões bebés cor de rosa, e não é por isso que são más pessoas. Criam animais para comer e não se agoniam com o sangue. Ponto.

Em quarto lugar: se querem que aqueles que como eu têm uma posição mais ou menos indiferente ao caso, assinem petições e se solidarizem com a vossa causa, evitem chamar assassinos, homicidas, bárbaros, carrascos e outros mimos a quem defende a continuidade das touradas. Fica-vos mal, tira-vos credibilidade, além de poderem estar a ofender o vosso cordial vizinho de cima, o porreiraço que trabalha na secretária ao lado, ou o médico dos vossos filhos. São eles realmente más pessoas por serem aficionados? De certeza que é isso que lhes querem chamar cara a cara, ou ficam-se pelos comentários no facebook?

Em quinto, e na sequência do quarto ponto:  desejar a morte a uma pessoa, seja ela toureiro, forcado, bandarilheiro ou qualquer outra coisa que se possa ser lá pela arena, ou dizer que se fica contente quando alguém fica estropiado para sempre, como li nos últimos dias, é de uma agressividade, de uma crueldade e de uma violência, muito maior e muito mais grave, que cinquenta pares de bandarilhas no lombo de um animal. Coitados daqueles para quem a vida de um animal, vale mais que a vida de uma pessoa (e escusam de vir com os pedófilos, com os psicopatas e com o Estado Islamico, estamos a falar de alguém que exerce uma actividade que por enquanto é legitima e legal). Esse tipo de "desabafos" em público, faz mais pela continuação das touradas que dez praças cheias, além de só poder envergonhar os movimentos que supostamente integram.

Por fim: a vossa causa tem argumentos bons, muito bons, diria mesmo que tem os melhores argumentos nesta divergência que vos opõe aos aficionados. É usá-la em campanhas de sensibilização, especialmente dirigidas a crianças e jovens. É fazerem petições, procurarem apoio de figuras reconhecidas na sociedade portuguesa.  E é serem coerentes. É não ir ver o Festival do Panda, nem o Cats ao Campo Pequeno, evitar os casaquinhos e as carteiras de pele genuína, e já agora, não ter cães gigantes fechados doze horas por dia em apartamentos de 90 m2.

sexta-feira, abril 24, 2015

Voltando à vaca fria

O Ricardo Araújo Pereira e o Markl, fizeram um video a apelar à assinatura de duas petições, uma contra a canalização de dinheiros públicos para financiar a tauromaquia, outra a pedir a proibição da presença e participação de crianças nas corridas de toiros.
Detesto corridas de touros. A verdade, é que o espectáculo não me entusiasma, muito menos me fascina. Azar o meu, parece que faço parte da pequena fatia do povo português que não tem inscrito no seu ADN o gosto pelos toiros, essa parte do património cultural tão importante ao funcionamento normal da sociedade portuguesa.
Não tenho uma posição extremada em relação ao assunto. Não vejo, porque não gosto. Costumo dizer muitas vezes que não gosto de corridas de toiros, da mesma forma que não gosto de Fórmula 1, mas a verdade é que vai além disso. A verdade, é que tudo o que gira à volta do sofrimento do bicho, me deixa altamente desconfortável, e ir para uma praça tapar os olhinhos cada vez que sacam de uma bandarilha...Convenhamos, não é?
Agora o meu dilema.
Uma boa parte da familia e amigos de sempre de Dito-Cujo é aficionada. As festas da terra onde os meus filhos passam todos os períodos de férias, gira à volta do toiro. Largadas, garraiadas, e touradas. Os meus filhos dividem-se. Migalha do Meio dispensa os eventos taurinos, mas Migalha Crescida e especialmente o Sancho, adoram. Vibram. Para terem uma ideia, uma das brincadeiras favoritas do meu filho, é "brincar aos forcados", e passa horas a ver videos de corridas no Youtube.
Já lhe perguntei se não tem pena do animal, se não lhe faz impressão, "olha filho tanto sangue, aquilo deve doer", mas ele não se comove.
Não quero educar um aficionado, mas não me sinto no direito de proibir, ou ir contra aquilo que é um gosto e uma tradição da família do pai. Por outro lado, nos tempos que correm, penso duas vezes antes de o mandar para a escola com uma das muitas t-shirts vindas de terras de nuestros hermanos, cheias de toiros e olés!, não vá aquilo chocar alguém.
Digo-vos, esta cena da maternidade é complicada até nas cenas que deviam ser simples.


Ontem foi o Dia do Livro

Não me lembro qual foi o primeiro livro que li, nem que idade tinha. Não sei se foi a Enid Blyton, ou a Alice Vieira, mas sei que li tudo, ou quase tudo, o que havia para ler das duas. Que me comovi com "Rosa, minha irmã Rosa", ou "Chocolate à Chuva", que fiquei  fã da "Ursula, a Maior", e que me ri, talvez o primeiro livro que me fez soltar gargalhadas, com as "Graças e Desgraças na corte de El-Rei Tadinho". Sonhei com a vida no "Colégio das Quatro Torres", ou em Santa Clara, e fico quase emocionada quando trinta anos depois Migalha Crescida lê e sonha o mesmo. Li toda a coleccção da Carlota, passado algures entre a Dinamarca e a Noruega, e ainda consigo sentir o frio das brincadeiras da neve, ou o conforto das papas de aveia quentinhas. Quando me vi em casa por quase dois meses, um Verão inteirinho, li "As aventuras de Mac Gurk", um pequeno detective ruivo de nariz apurado para a resolução de pequenos crimes, e passei um bom par de meses a transformar tudo o que via em pistas de qualquer coisa. Tinha 10 anos.
Adolescencia dentro, comecei a apaixonar-me por livros que me puxavam à lágrima. "O meu pé de Laranja Lima" e o "O Diário de Anne Frank", que me apresentou os horrores do holocausto e me levou directa a "Mila 18", o primeiro livro com muitas muitas páginas, que li num piscar de olhos.
Odiei  "Os Bichos" de Miguel Torga, e só obrigada li "Os Novos Contos da Montanha". Não voltei a pegar em Miguel Torga.
Obriguei-me a ler Richard Bach, agora que me lembro aquilo era uma tremenda seca, mas de alguma forma fazia parte, cheguei a ver o "Fernão Capelo Gaivota" na escola, uma sessão de cinema organizada, nem sei se pelo Português se pela Filosofia, um longo e moroso bocejo para quem tinha uns catorze ou quinze anos. Mas vibrei com todas as mulheres das  "Brumas de Avalon"
Em casa dos meus avós havia centenas de livros à distância de uma mão. Foi lá que visitei o século dezanove, primeiro com Julio Dinis, depois com Eça, que conheci a "Clarissa", Jorge Amado, que espreitava às escondidas um qualquer Dicionário Erótico.
Lembro-me de muitos, tantos livros que li, mas já me esqueci de outros tantos.
Não tenho o livro da minha vida, são demasiados os que chegando ao fim me levaram a abrir aleatoriamente as páginas lá para o meio, para ler mais um bocadinho, para matar saudades das personagens que ali se encerravam. Foram tantos os que me deixando sem ar, me levaram a espreitar o fim, só para ter a certeza que tudo acabaria bem, podendo respirar de alívio e ganhando tranquilidade para retomar a história, certa que nos estaria a levar a bom porto.




quarta-feira, abril 22, 2015

Faltam dois meses para o Verão, Jesus! Maria do Céu! Nosso Senhor me valha!

Já lá vai o tempo em que gordura era formosura. Só eu e Deus sabemos, o que lamento não ter vivido nos tempos em que uma mulher redonda era só uma mulher saudável, em que ser roliça era sinal de felicidade, e até de fertilidade.
Calhou-me viver estes tempos em que se apreciam os ossos do pescoço e das ancas, tanto como em tempos se apreciaram peitos fartos e coxas gordas.
Não vale a pena lutar contra a corrente. Por muitos anuncios que se façam com mulheres "normais", sendo que por normal deve ler-se "anafada", estes serão sempre os tempos em que a Katia Aveiro é expulsa de um programa de dança por ser um bocado "pesadona", que é como quem diz, ter mais uns 12 ou 15 quilos que mulheres como a Laura Figueiredo, ou a Isabel Silva (sim, também não fazia puto de ideia quem eram, é googlar).
Uma mulher muito magra já não é um cabide, nem uma carga de ossos, nem uma "tábua de passar a ferro", já não é magra como um cão, nem feia de magra. Uma mulher magra será quanto muito, alguém que quando se senta à mesa se controla, que não se atira a um prato de boa comida como se fosse a última coca-cola do deserto. Uma mulher magra é a "gaja" a quem qualquer trapinho fica bem. Que pode usar "shorts" aos quarenta, que pode calçar  umas sabrinas sem parecer a Popota.
Por tudo isto, eu, como a maioria das mulheres, vivo escrava da balança. Ai que agora engordei três, ai que tenho que perder três. Dois ou três meses de descontracção à mesa, significam dois ou três meses de corridas e abdominais e saladas e grelhados e chá verde e depuralinas e anti-celuliticos, e leggings refirmantes etc, etc, etc.
Claro que podemos borrifar no assunto, e entrar no espírito do "perdoa-se o mal que faz pelo bem que sabe" e "gordinha mas feliz", mas a verdade, é que se há coisa que não já não dispenso, é gostar de me olhar ao espelho. Isso e biquinis.
Não sou magra. Na verdade, talvez tenha sido magra apenas quando ainda na infância, uma hepatite me atirou por dois meses para uma ementa de cozidos e grelhados, sem apelo nem agravo. Ou quando no final da adolescencia, o primeiro desgosto amoroso me permitiu viver de iogurtes e bananas durante uns três meses (ainda não conhecia as maravilhas do vinho tinto).
Isto para vos dizer, que cá estamos outra vez, a cortar hidratos, a contar calorias, a tirar o pó aos ténis, e a arrastar o rabo gordo e as carnes flácidas, pelas ruas de Lisboa.



sábado, abril 18, 2015

Ouvi com estes ouvidos que a terra vai comer daqui a montanhas de anos

Hoje, enquanto caminhava...cof...cof...hum...corria, velozmente, ena pá, parecia vento, tão rápido que corria, bom, mas quero dizer-vos que enquanto corria num "recinto" (adoro) onde decorriam provas de atletismo, ouvi um pai para o filho:
-Olha, estão a fazer corridas de barragens!

sexta-feira, abril 17, 2015

segunda-feira, abril 13, 2015

Mas na fotografia até parece

Molho de iogurte não é maionese, iogurte natural não são natas, bebida de soja não é leite, pão cereais não é pão de Mafra, hamburguer de seitan não é mertolengo, tofu não é queijo, courgete não é batata, stevia não é açucar.

domingo, abril 12, 2015

Bolo de espinafre adoçado com stevia



Ganda merda.

Bairros onde não quero morar nem que a vaca tussa

Campo de Ourique e Parque das Nações.
Por causa de festas de anos, fui obrigada a deslocar-me aos dois, um no Sábado, outro no Domingo.
Se eu apanhasse tanto trânsito e tanta fila para me deslocar dentro do meu próprio habitat, ainda por cima aos fins de semana, dava um tiro nos miolos.

quinta-feira, abril 09, 2015

Verdadeira facada no coração. Pelas costas.

Há momentos em que os acontecimentos nos obrigam a parar para pensar.
Questionar tudo.
Como chegámos até aqui? Valeu pena? Vale a pena?
Gerem-se as palavras, gerem-se os silêncios. Aprendemos quando falar. E quando calar.
Medimos, avaliamos, o que nos merece lágrimas, o que nos merece perdão.
Mas há um dia, um momento, em que acontece algo que pode não nos merecer perdão. Algo tão grande e tão grave, que nos abala com tal intensidade, que sentimos as pernas a falhar, as mãos as tremer, a água a invadir-nos o olhar.
Ficamos sem palavras. A boca seca.
Queremos relevar e não conseguimos. Queremos dizer que tudo se vai compor e não conseguimos.
E é então que tudo passa em retrospectiva.  O dia de ontem.  A ainda próxima manhã de hoje, enquanto tudo ainda estava bem, tudo corria normalmente, nada poderia deixar adivinhar o que aí vinha.
Como foi ele capaz? Como?
A única coisa que oiço é a voz feliz do meu filho, de sorriso rasgado:
- Gostas mãe, gostas?
Dito-Cujo rapou o cabelo ao Sancho.
Máquina 3.

terça-feira, abril 07, 2015

Diz que hoje se fala de adolescência

A minha experiência com adolescentes não é vasta. Cá em casa espero temerosa os primeiros sintomas, mas por enquanto sou só mãe de três crianças.
Por essa razão, a única adolescência de que posso falar com propriedade, é da minha própria.
Posso dizer que fui uma adolescente normalzinha. Idiota a tempo inteiro, parva a maior parte do tempo.
A começar pela escolha da indumentária.
Durante um ano vesti-me como uma viúva cigana, só que sem as nódoas, os buracos, e o lenço. Uma loja boa, era a que tivesse uma oferta variada de saias pretas até aos pés. A pancada da roupa preta durou até ao dia em que numa festa em que se falavam de trapos, alguém diz com ar irónico, "já a Xaxia está sempre a condizer, preto com preto".
Aquela merda ficou a martelar-me na cabeça. Estariam aquelas gajas a insinuar que eu me vestia de preto porque não sabia combinar mais nada?
Aproveitei o Verão e as férias grandes, que aquilo o preto fazia uma pessoa suar as estopinhas, e mudei radicalmente de estilo. No inicio do ano lectivo seguinte, apresentei-me de calças de ganga (sempre), camisas às riscas e aos quadradinhos muita pequeninos, ténis Redley e All Star. As cores andavam entre o azul escuro, o verde, o bordeaux, na loucura lá saía um rosa ou vermelho. O único requisito para além da limitada paleta de cores, era que tivessem comprimento suficiente para tapar aquilo que eu achava ser um rabo demasiado grande. Ah, e as calças de ganga tinham que ser Mustang, El Charro, Levi's ou Chevignon. De preferência da candonga, que assim escusava de explicar lá em casa a necessidade de adquirir calças de quinze ou vinte "contos". De caminho também expliquei à minha mãe que com a roupa preta podia fazer uma bonita trouxa para quem precisasse. Aliás, que me lembre, este foi um dos meus maiores problemas na adolescência, ter que passar a vida a explicar coisas aos meus pais.
Aos quinze comecei a namorar, aos dezasseis a fumar. E a tomar a pílula. Aos dezassete achei que ia mudar o mundo, aos dezoito concluí que o mundo era um sítio merdoso sem remédio e que Deus nos tinha entregues à nossa sorte, e tornei-me uma deprimida hipocondríaca.  Aos dezanove inscrevi-me pela terceira vez num curso diferente de engenharia, aos vinte mandei o namorado da adolescência à fava e comecei a sair à noite cinco dias por semana.
Em minha defesa, posso dizer que durante todo este tempo em que estava ocupada a ser uma adolescente com direito a entrada directa no quadro de honra da estupidez, mantinha umas notinhas de se lhe tirar o chapéu, e uma média que poderia ter dado para quase tudo, não fosse uma opção errada à última da hora. Parecendo que não, um filho com boas notas é outro sossego. Poupa-se uma data de massa em explicações, e não é preciso esperar nem que conclua o nono ano para ir para um curso "técnico-profissional" qualquer, nem que faça dezoito anos para ir para caixa do Pingo Doce, e as notas foram contrapartida para quase tudo, mas sobretudo para umas viagens bem fixes na Europa.
Não sei o que me reserva o futuro. Migalha Crescida começa a dar um ar da sua graça, mas é muito prematuro associar o comportamento dela dos últimos tempos ao tipo de adolescente que será.
Quando chegar a hora de lidar com alguém que é simultaneamente parvo e dono da razão, logo verei, mas o que espero, é ter a paciência, a tolerância e os calmantes certos no bolso.





sábado, abril 04, 2015

Mother issues

Depois de mais uma tentativa de impor a minha presença e de Migalhas por um período superior a vinte e quatro horas, concluo que a única forma de me dar relativamente bem com a minha mãe é não ter contactos nem frequentes nem longos. A distância garante que a nossa amizade parece maior e  traz graça às traquinices e tropelias dos meus filhos.
Vivermos na mesma casa, ainda que apenas por breves dias e em datas festivas, revela de forma demasiado óbvia que ou eu espero demais, ou de facto, ela está disposta a dar de menos.
Talvez o problema seja meu. Espero sempre que a qualquer momento se dê uma espécie de milagre, que o barulho, a agitação, as mudanças de planos de ultima hora, deixem de ser tão dramáticas e incómodas, que deixe de existir aquela espécie de tensão no ar (e nas minhas costas, e no meu sono), que tudo seja alegre e descontraído, mas talvez os meus pais, e a minha mãe em particular, não consigam de todo levar a vida e os dias com descontração e alegria. Talvez a missão deles nesta vida seja zelar para que nada perturbe aquela porra daquela rotina sensaborona em que vivem, que a caminhada se faz de manhã, que os sofás estão a salvo de sapatos, que não há barulho na hora da novela.
A mim, só me resta poupar-me e à minha família a esta espécie de tentativas de brincar aos avós, e rezar para que Deus permita que eu nunca fique assim.



sexta-feira, abril 03, 2015

Hoje é aquele dia

Em que nos distraímos e acaba sempre por marchar uma empadinha, um folhadinho de salsicha ou uma sanduíche de fiambre.

quinta-feira, abril 02, 2015

Badoca Safari Park

Acho que a nossa geração de pais, e não falarei por todos mas sei que falarei por uma boa parte, padece do medo de ver os filhos entediados. Procuramos sempre programas e programinhas para fazer com eles, lemos a "Estrelas e Ouriços", acompanhamos as estreias dos cinemas, vibramos com a perspectiva de um parque de diversões, uma peça infantil, um concerto, um circo, ou até uma feira com um carrossel e uma barraca de farturas. Quando aparece o sol andamos entre parques, jardins, praias e piscinas.
As nossas criancinhas, treinadas que estão nesta corrida desenfreada para tornar cada dia numa experiência qualquer, mal acordam e já estão a perguntar "então o que vamos fazer hoje?"
Cá por casa ainda nos falta fazer muita coisa, mas esgotados que estão o Jardim Zoológico e o Oceanário, resolvi ir passar o dia com eles ao Badoca.
Achei o parque giro, as pessoas simpáticas (ou não fossem alentejanos). Talvez chamar-lhe "safari park" seja um pouco pretensioso, afinal o safari são quarenta minutos num atrelado de um tractor, mas estava sol sem estar demasiado calor, e entre a alimentação dos lémures, um almoço ranhoso (se lá voltar levo comida, tem muito espaço para picnicar), o dito safari e um espetáculo de aves de rapina (o melhor do parque para mim), mais uns primatas e  umas aves exóticas e umas cabrinhas anãs (fofura, pá), o dia passou que foi uma maravilha.
Estarão vocês a pensar, que as crianças deliraram, ficaram malucas com as zebras e as girafas e com a chichoca gigante da avestruz, mais os filhotes bebés dos antílopes, não é?
Pois, não.
Vejam bem, que a única coisa divertida que elas viram no parque, foi a única que não as deixei fazer porque iam ficar todas encharcadas: o rafting. E não, não estou a exagerar. A resmungar porque a ilha dos primatas ficava longe e estavam cansadas, o que me disseram foi " a única coisa divertida não deixas fazer".
Digo-vos, esta geração de crianças é muito difícil de contentar. E é muito dificil de contentar, porque são muito dificeis de surpreender. Entre a televisão, a internet, e os mil e um sítios onde os levamos, já pouco os encanta ou maravilha. 
O que noto aqui nas minhas Migalhas, é que a observação pura e simples de alguma coisa não lhes diz quase nada, ainda que seja uma girafa a menos de um metro. Querem mexer, tocar, provar, escorregar, subir, mergulhar, pular de alguma coisa ou em alguma coisa, tentar.
Claro que depois ficam com memórias boas, e falam dos lémures bebés agarradinhos às barrigas das mães, e da arara que quase bicou o Sancho, e do cheirete que deitava o dromedário, mais a ave que tenta matar um lagarto de peluche a atirá-lo contra as pedras vezes sem conta, mas enquanto estão no sítio, naquele exacto momento, parecem quase tão entediados como se estivessem em casa a ver televisão e a fazer desenhos. 
Claro que Migalha Crescida, que apesar de ter apenas nove anos me parece estar a entrar numa espécie de pré-adolescencia precoce, é a pior neste aspecto, mas o problema está bastante massificado cá por casa.
Por causa das tosses, nesta Páscoa já não vão a mais lado nenhum. Andam de bicicleta, lancham waffles feitinhas em casa, brincam às papinhas de terra e farinha, e se estiver solinho, talvez os leve à praia. 

Ao perto são ainda mais assustadores...