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quarta-feira, novembro 05, 2014

Ralações

Todos os filhos são um desafio. Uns porque são demasiado nós, outros porque são demasiado outra coisa qualquer que não tem nada a ver connosco.
Migalha do Meio enquadra-se neste segundo caso.
Ou seja, não tem absolutamente nada a ver comigo. E se ter um filho a quem se adivinha o pensamento dá trabalho, imaginem exactamente o contrário.
E é por isso que esta miúda é um desafio constante. E uma preocupação.
Onde eu tenho rispidez, Migalha tem doçura. Onde eu tenho assertividade e objectividade, Migalha tem imaginação e fantasia. Onde eu tenho  um pensamento dentro do quadrado, Migalha tem criatividade.
Se me pedirem para descrever uma imagem onde está uma casa no campo, uma árvore e um baloiço, eu vou dizer que vejo uma casa no campo, uma árvore e um baloiço. Migalha vai dizer que vê uma casinha muito grande, onde vive uma família muito feliz, e um menino que gosta muito de andar no baloiço, só que agora não está lá porque caiu no baloiço e partiu um braço e precisa ficar em casa a descansar. enquanto a avó faz uma tarte das pêras colhidas da árvore do quintal.
Enquanto eu desde cedo assumi que não tinha paciência para a maior parte das pessoas, Migalha refere-se a 80% das miúdas da escola como "minha amiga".
Por outro lado, enquanto que consegui ser sempre politicamente correcta no tipo de contexto "escola", Migalha mete mão na anca, e grita, e barafusta, e arma grandes peixeiradas com a sua voz altamente potente para seis anos.
Na escola, a professora tem um sistema de classificação do comportamento que se traduz numas bolas verdes, amarelas e vermelhas durante a semana, e que à sexta resulta num sol radioso (bolas verdes), num sol ligeiramente encoberto por algumas nuvens, e se coleccionarem muitos dias a vermelho, uma montanha de nuvens negras. Cá por casa é sempre inverno.
E depois penso que Migalha precisa de um castigo. E digo-lhe, que é bom que o sol comece a aparecer ou não põe os olhos na Violetta uma semana seguida. Mas depois encolho-me, e penso naquele mini furacão fervilhante de ideias e cantorias, confinada a uma sala de aulas, e sei que tenho que dar um desconto. Porque exigir-lhe o mesmo que exijo por exemplo à irmã, é ir completamente contra aquilo que é a essencia desta filha, sumarenta e alegre, que arrasta tudo à frente.
Depois tenho medo que a professora não a consiga perceber, que exija dela o que não é ela, e que lhe vá roubando aquela alegria imensa.
Marquei reunião. Para tentar entender se aquele temporal que me traz às sextas, é só aquela irrequietude que a caracteriza, ou se entra pela falta de respeito, de obediência ou de educação.
Para depois decidir o que devo fazer, mas já sei que implicará um esforço imenso para respeitar aquela maneira de estar tão particular e tão pouco eu.

18 comentários:

  1. Já te disse que gosto de ti?
    (Esse sistema de classificação tira-me do sério, acho uma cretinice do pior, apesar de sempre ter contactado com dias de sol luminoso. E não acho que funcione, os miúdos acabam por se marimbar nas nuvens, acho uma pena que a professora não resolva fazer 5 minutos de "onde é que eu posso melhorar", todas as semanas, mas às tantas é por demais trabalhoso falar com os miúdos...)

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    1. É para trocar mimos? É que tenho uma imensa falta de jeito para isso.
      Também acho que ficava melhor à senhora explicar-lhe onde tem que melhorar. Porque a verdade é que chora que nem uma condenada quando traz a folha do comportamento, e quando pergunto o que fez ela diz que não sabe.

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    2. Porque não a levas à reunião? A professora tem de lhe explicar exactamente quais são as regras que ela não está a cumprir.
      Ela ao menos perdeu meia manhã a definir as regras da sala com os alunos? Eles sabem exactamente o que é adequado e o que origina bolas encarnadas?

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    3. Ná...Pode haver necessidade de "centrar" a senhora e não o posso fazer em frente dela. Se a professora me explicar, eu depois desmultiplico.

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  2. Essa tua filha... :)))))) sabes o que me vem à cabeça quando penso nela? Olhos doces cor de mel.... Tem?

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    1. Não, castanhos escuros. O cabelo sim, é cor de mel.

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    2. Tens a certeza? Não é essa a ideia que tenho .. E olha que eu nunca me engano!

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    3. Agora já está a dormir, e dá-se o caso de o fazer de olhos fechados, mas amanhã de manhã é a primeira coisa que faço, caraças!

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  3. Se todas as Mães fossem como tu , este mundo seria bem melhor.
    A maneira como pensas e a actitude nesta situacao é aquela que todas as mães
    deviam ter!

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    1. Eu esforço-me, mas nem sempre consigo. O lado emocional muitas vezes vence o racional, e dou por mim a ralhar com ela.

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  4. Na escola da Mironinho também havia esse sistema das bolas. Acontece que este Verão algo se passou que a miudagm veio especialmente endiabrada. Nas duas primeiras semanas era um verdadeiro festival da bola encarnada. Até a Mironinho, que nunca tinha tido antes. A professora disse que devia ser do Verão, ainda não estavam bem enquadrados no novo ritmo. A prpfessora também percebeu que aquilo estava a tornar-se desmotivador e a produzir efeitos inversos aos desejados, pois os alunos já encaravam com normalidade a bola encarnada e por isso decidiu suspender a avaliação por bolas. As mudanças começaram a notar-se e as bolas voltaram na semana passada. And guess what? Plenty of green dots!

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    1. Acho que é o que acontece por ali. Tanto leva uma bola encarnada por estar na tagarelice, como por se sentar torta na cadeira, como por se levantar sem autorização... Numa sala de miúdos de seis anos é um chorrilho desgraçado de bolas vermelhas, e eles já nem ligam. A minha liga porque tento dar importância e todos os dias pergunto...

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  5. Atentai nisto: 90 minutos de aula!! Ninguém merece, muito menos quando se tem 6 anos e se quer navegar nas nuvens, saltar as ondas e pintar o mundo com as cores que nós não vemos. Cá em casa é parecido, a filhota tem a cabeça tão cheia do que lhe interessa que não abre espaço para leituras decimais do número , arrendondantos para a dezena de milhar mais próxima nem para as esdrúxulas e afins. É difícil conseguir o equilíbrio entre deixá-los ser e enquadra-los no que o mundo, ou melhor o nosso mundo, acha que devem ser.

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    1. É verdade, é dificil. Mas tento não ser castrar demasiado a maneira de ser dela. E cada vez que me lembro que no meu tempo, se uma criança fosse assim como ela, levava reguadas nas mãos, as bolas encarnadas não parecem assim tão más.

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  6. O meu é um bocado assim como a tua, só não põe a mão na anca e arma peixeiradas. Mas é um miúdo com uma imaginação para lá de fértil, tem sempre alguma coisa para contar e por isso fala pelos cotovelos, não há dia que à refeição ou ao lanche os talheres não se transformem em carros, a lancheira em televisão e etc... Sempre pensei que quando fosse à escola a conversa fosse à volta de como ele se distrai e fala e fala e fala. Nada disso, a professora diz que é saudável uma imaginação assim, que apesar de ás vezes parecer que ele está no mundo da lua, quando questionados sobre o que acabaram de ouvir ele é o único que sabe responder, desvalorizou por completo este "aluamento" dele. Acho que há professores que se esquecem que estão na presença de crianças, que têm imaginação e que essa imaginação os ajuda a aprender e é saudável.

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    1. Por isso vou falar com a professora. Preciso de perceber se há empatia com Migalha, ou se a senhora não suporta este género de crianças.

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  7. Na escola da minha criança não havia sol radioso, nem nublado e muito menos inverno. Quando acontecia algo que a professora qualificava como menos próprio, era mesmo trovoada (chapada), e digamos que o menos próprio, poderia simplesmente ser falar com o colega do lado. Sim, a minha criança chegou a levar uma vez com a trovoada... mas digamos que deste lado a tempestade se fez sentir muito bem. Há professores que estavam bem era no monte a guardar cabras e mesmo assim, pobres bichos.

    CM
    CM

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  8. Fazes bem em falar com a professora.
    Faz-me confusão esse sistema das bolas, sem que eles percebam o que esteve errado no seu comportamento.
    No 1º ano, a professora do meu filho tinha um sistema de pontos: 1 era muito mau, 3 era médio e 5 era bom. Mas esses pontos eram atribuídos pelas próprias crianças, que depois os justificavam à professora, se ela discordasse. E, ainda mais importante, funcionava dentro da sala. Essa informação não ia para casa...
    Um bom professor resolve os problemas de mau comportamento na hora e na sala. Se o caso for particularmente grave, então deverá informar os pais. Bolinhas coloridas não servem para nada!

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