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sexta-feira, abril 22, 2016

Já não gosto mais de ti

No último ano, aprendi a gerir melhor a relação emocional com a empresa onde estou há uma dezena e meia de anos. Basicamente, tirei a parte do emocional, e passei a encarar o meu emprego como o sítio onde faço o meu melhor,  e em troca recebo dinheiro. 
Para dizer a verdade, o trabalho é um meio para atingir um fim, e não sendo herdada nem tendo casado rica (com muita, mas mesmo muita, pena minha), resta-me como única forma de o atingir- ao fim. 
Em minha defesa, posso dizer que não fui eu quem começou este fim de namoro. Tempos houve em que achei que poderíamos ter uma relação especial, eu e a empresa. Era um daqueles amores que funcionavam, porque eram recíprocos. 
Depois aconteceram coisas. Muitas coisas aconteceram a muitas pessoas. E não aconteceram a umas pessoas quaisquer. Aconteceram a pessoas que também viviam a alegria de uma relação que julgavam plena, que se julgavam especiais, que pela sua enorme dedicação esperavam um tratamento diferenciado, preferencial. Aconteceram coisas a pessoas que abdicaram de demasiado na sua vida pelo emprego, a troco de palmadinhas nas costas.
Eu sempre acreditei que jamais um empregador no seu perfeito juízo quereria dispensar um bom trabalhador. Sempre acreditei que as leis de protecção ao emprego serviam apenas para os faltosos, os preguiçosos, os colaboradores que qualquer patrão, do mais pequeno ao maior, quereria ver pelas costas. 
Ao longo destes anos, não foram poucas as vezes que tive que despedir pessoas. Porque os contratos acabavam, porque os estágios eram miseráveis, porque faltavam, porque roubavam...Sempre o fiz na certeza que estava a fazer o que tinha que ser feito. Não me pagavam para fazer caridade com o dinheiro da empresa, e aquilo não é a Santa Casa da Misericórdia. Sempre, sempre pessoas que não valiam um tostão furado quanto mais um ordenado. 
Mas nunca  tive que despedir um bom trabalhador. Porque os bons, já se sabe, ninguém se quer ver livre deles. 
Até agora.
Ora eu, que tenho este problema de ver nas costas dos outros as minhas, juntei dois mais dois, e decidi que se um dia me vier a acontecer esta coisa de deixar de ter as competências adequadas para o perfil, já me terei  desapaixonado há muito. Poderei lamentar a perda de benefícios, até do emprego, mas nunca terei a lamentar um coração partido. 

6 comentários:

  1. 100% de acordo! Eucostumo dizer que quem diz que a empresa é como uma família, um dia vai ver...Família só se for a da Máfia!

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  2. Pois vinha aqui comentar precisamente isso, em tempos fomos todos familia, ultimamente passamos a números num ápice porque queriam ver-se livres de um número avultado. Assim foi, eu o número 25 vim para a rua com 23 anos de casa, juntamente com mais 22 números que, pelos vistos, estávamos a mais. Faz muito bem em terminar rapidamente com essa relação e mantê-la só pela retribuição.

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  3. Bem sei que o metabolismo funcional das grandes empresas não permite esse grande luxo da proximidade emocional, mas um empresário que se permite dispensar um bom funcionário nunca será um bom gestor.(Digo eu).

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  4. "
    Primeiro levaram os negros
    Mas não me importei com isso
    Eu não era negro

    Em seguida levaram alguns operários
    Mas não me importei com isso
    Eu também não era operário

    Depois prenderam os miseráveis
    Mas não me importei com isso
    Porque eu não sou miserável

    Depois agarraram uns desempregados
    Mas como tenho meu emprego
    Também não me importei

    Agora estão me levando
    Mas já é tarde.
    Como eu não me importei com ninguém
    Ninguém se importa comigo".

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  5. Padecemos do mesmo mal de amores. Já deixei de estar apaixonada há muito restando-me apenas um "casamento de conveniência" com aquilo a que chamo emprego. Valha-nos ter a vida lá fora como o amante que nos aquece os dias :)

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  6. Como te compreendo. Ando mto "desapaixonada" nos últimos tempos...

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