O maravilhoso header é cortesia da Palmier Encoberto. Quem mais?

segunda-feira, setembro 14, 2015

Electrico 28

Em primeiro lugar, deixem-me que vos diga que desaconselho vivamente este passeio com crianças. Quando chegarem ao fim, se chegarem, julgo que vão perceber porquê.
De vez em quando passa-me assim uma coisa pela cabeça, de que estou a criar três cepos, tal é a falta de programas culturais e experiências que não envolvam parques temáticos, aquáticos, ou outras actividades de lazer com baloiços, carroceis, ou cenas penduradas por ganchos e coletes salva vidas.
Então, achei que nada como mostrar-lhes bem de perto a cidade onde vivem tipo desde sempre, e por onde circulam exclusivamente de carro, e escolhi o famoso percurso de eléctrico 28, que sai ali do Martim Moniz e vai Alameda fora, começando depois a entrar pela Graça, passando à porta da igreja de S. Vicente, da Sé, perto do Castelo, e de pelo menos dois miradouros, desce até à Baixa, sobe ao Chiado e sempre por aí fora até deixar ver o Jardim da Estrela e por fim, Campo de Ourique e os Prazeres. Perfeito, não?
Sim, perfeito.
Só que não.
Bom, a fila para apanhar o eléctrico é longa e quase ninguém fala português. Gerem-se as entradas para que se consiga um lugar sentado e à janela, coisa que quem anda em turismo não dispensa. Eu por exemplo, deixei ir embora um dos eléctricos porque não havia lugar sentado para os quatro.
Os dois condutores com quem cheguei à fala, eram dois burgessos, mal educados, pejados de falta de vontade para pessoas. Apesar de levarem uns trinta entrangeiros, não os ouvi dizer uma palavra em inglês. Se isto é o melhor que a Carris tem para apresentar a quem visita o nosso país...Como dizia a outra, se isto é a montra, imagino o armazém.
Mas tuuuuudo bem, afinal o que é a má vontade de um funcionário da Carris perto da minha vontade de mostar Lisboa aos meus filhos? Nada.
Bom, todos perto da janela, ai que excitação.
E é então que começa o problema. É que o 28, não é uma carreira turística. É o eléctrico que serve muitos lisboetas que andam na sua vidinha de todos os dias, e pelo menos hoje, muitos deles não estavam para cenas de turistas. Um tentou baixar as cortinas por causa do sol, e nem um coro de "no, no" o demoveu, apenas a resistência do material perro a acusar falta de óleo e manutenção. Depois, a quantidade de gente que viaja em pé, tira completamente a visibilidade (que já não é grande coisa) para o outro lado da rua, e portanto, há que escolher, ou vais de um lado e vês a Sé de Lisboa, ou vais do outro e vês a Assembleia.
Mas o pior não foi isso. O pior, que me deixou com um camadão de nervos e com vontade de sair ali logo no largo do Limoeiro, foi o de acharem que Migalhas deveriam ir de pé e dar lugar "aos mais velhos". Pelo menos um homem começou aos gritos a dizer "as crianças não pagam e vão a ocupar lugares" (mentira, pagámos todos igual), o que me obrigou a um não muito agradável bate-boca com o senhor (que eu na minha tentativa de ver algo para lá de rabos, nem tinha reparado que tinha entrado e tinha uns setenta anos), e uma mulher que nem português falava, mandou Migalha do Meio levantar-se umas três vezes.
Eu percebo, crianças com boas perninhas vão de pé e dão lugar aos mais velhos, mas além dos meus filhos serem uns totós a andar de transportes, e de eu sozinha não conseguir controlar os três com os solavancos, era suposto ser um passeio turístico em que vão a espreitar à janela e não irem espremidos entre barrigas de uns e sovacos dos outros. O Martim Moniz ficou lá para trás e ninguém quer saber do tempo que esperámos por aqueles lugarzinhos.
Lá chegámos ao fim da linha, já com o Sancho ao meu colo e com Migalha do Meio de pé agarrada a mim, onde o sempre simpático condutor anunciou que "termina aqui".
Como metade das pessoas não percebeu, ele insistiu umas cinco vezes: "termina aqui".
Alguém ensine os senhores da Carris a dizer "the end", por favor.

19 comentários:

  1. Um condutor altamente qualificado da Carris (NOT) já mereceu eu perder uns cinco minutos da minha vida a enviar um email ao departamento de qualidade da empresa para a qual trabalha, veste a farda e dá a cara.
    Desde não falar ou não querer falar uma palavra de inglês com a resma de estrangeiros que tentava entrar no Elevador do Lavra em pleno Agosto ao ser trombudo com os passageiros portugueses que, supostamente, falavam (e bem!) a mesma língua, passando por gritar e gesticular com um estrangeiro que não mostrou o bilhete, houve ali um mix de falta de ética profissional que me fez anotar o nome do senhor descontente e enviar uma reclamação por escrito. Uma vergonha!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Fizeste lindamente. Mais pessoas o fizessem e pensariam duas vezes. Sinceramente, agora que falas, era exactamente isso que devia ter feito.

      Eliminar
  2. Eheheheheheheheheh... Bem, Xaxia, não foi nada comigo mas deu para me irritar!!
    Também fiz um desses passeios de eléctrico, há 2 anos, com a minha filha e o meu marido... apanhamos na Praça da Figueira e fomos até ao Castelo, num eléctrico cheio de turistas, o meu marido de pé, eu sentada com a miúda ao colo, muitos rabos à minha volta... nunca mais!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. A partir de agora cá por casa, os eléctricos são aquele meio de transporte que dá umas belas fotografias!

      Eliminar
    2. Embora caros para os nossos bolsos,se quer ver,escutar e ir sentada sem rabos à volta,pode experimentar o circuito colinas (eléctrico vermelho)com áudio guia, possibilidade de entrar e sair nos pontos de paragem ,combina o circuito da 28 e 25 e com 1h20 de percurso......

      Eliminar
  3. Eu, adoptada por Lisboa há pouco mais de um mês, resolvi fazer esse itinerário mais numa de explorar Lisboa há dias.
    Partilho exactamente a mesma opinião. Além de ser quase exclusivamente para turistas, os eléctricos vão a abarrotar de gente, coisa que não acho de todo segura, quer pelo risco de roubo, quer pelo risco de lesões.

    ResponderEliminar
  4. Eu, adoptada por Lisboa há pouco mais de um mês, resolvi fazer esse itinerário mais numa de explorar Lisboa há dias.
    Partilho exactamente a mesma opinião. Além de ser quase exclusivamente para turistas, os eléctricos vão a abarrotar de gente, coisa que não acho de todo segura, quer pelo risco de roubo, quer pelo risco de lesões.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. É verdade. Aparentemente pouco seguros. O limite de pessoas não é minimamente respeitado, duvido sequer que seja controlado.

      Eliminar
  5. Querida Xaxia,
    Num agosto passado, tão passado que ainda tinha maiúscula, fiz precisamente esse percurso com os meus filhos. Era Agosto e só nós falávamos português.
    Um beijo,
    Outro Ente.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Já percebi que teve mais sorte que eu. Uma pena, tinha tudo para correr tão bem...

      Eliminar
  6. Que Bronco!!!!!!! Eu nos "Santos" andei e apanhei um motorista simpático e que falava um pouco de inglês!!! Teve azar!!! Mas os passageiros portugueses estavam bem para o motorista!!!!!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. O problema é uma pessoa embarcar a pensar que vamos todos imbuídos do mesmo espírito e tudo ao mesmo. Por isso o alerta. Aquilo é usado por turistas, mas não é para mostrar Lisboa. É um meio de transporte para muita gente. Sinceramente esperava que dada a fama do eléctrico, os clientes habituais tivessem outro grau de aceitação ou tolerância...

      Eliminar
  7. Também já fiz esse percurso com os miúdos. Foi pacifico, era uma senhora a conduzir, cara fechada, sem falas. Até que chegou á Basílica da Estrela e mandou o pessoal sair, porque sim, porque o elétrico não ia fazer o percurso todo. Porquê??? Nem resposta me deu, mas paguei os bilhetes por inteiro. Que tristeza.

    ResponderEliminar
  8. Pipocante Irrelevante Deliranteterça-feira, 15 setembro, 2015

    Essa moda de usar os transportes públicos para ir de um ponto da cidade para outro, com intuito de ir trabalhar ou tratar da vida... tem de acabar, tem de acabar!

    ResponderEliminar
  9. Da próxima vez vais neste que é espetacular e só há lugares sentados: https://www.hippotrip.com/pt/

    (Não te roubaram a carteira?)

    ResponderEliminar
  10. A Carris também tem esse percurso em modo turístico, o preço não deve ser o mesmo, mas pelo que conta, deve compensar.
    O 28 é um eléctrico que, por coisas da minha vida, me dava muito jeito usar, só que não. Raramente passa um que não esteja apinhado, mesmo no Inverno. Não faz mal, o passeio a pé também é bonito e ajuda a queimar calorias ;)

    ResponderEliminar
  11. A minha viagem foi mais emocionante!! Apanhei um carteirista em acção a palmar a carteira a um suíço, foi porrada na rua e olha nem gratificação me deu :). Levava a minha família que tinha vindo do Brasil, ficaram em choque de me ter metido no assalto, se fosse no Brasil era logo de tiro para cima

    ResponderEliminar

Comenta, não pagas nada e eu fico toda contente